De acordo com a tradição judaica, este símbolo era desenhado ou encravado sobre os escudos dos guerreiros do exército do rei
Davi. Esta tradição teve origem no fato de o nome hebraico para Davi (pronunciado
David) ser escrito originalmente por três letras do
alfabeto hebraico - Dalet, Vav e Dalet. Estas duas letras Dalet tinham uma forma triangular no alfabeto hebraico usado até então, uma variação do alfabeto
fenício, conhecido como
proto-hebraico. Estas duas letras então eram encravadas nos escudos dos soldados uma sobreposta a outra, formando uma espécie de estrela. Apesar de ser uma explicação plausível, carece de provas históricas ou arqueológicas para prová-la.
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A forma atual do Escudo de Davi já aparecia em diversas culturas do extremo oriente há milhares de anos, só nas últimas centenas de anos que mudou-se para um símbolo puramente judaico.
Este símbolo apareceu primeiramente ligado aos judeus já na
Era do Bronze - no
século IV a.C. - num selo judaico achado na cidade de
Sidon. Também aparece em muitas
sinagogas antigas na terra de
Israel datadas da época do
Segundo Templo e até mesmo em algumas depois de sua destruição pelos
romanos. Não lhe era dado, ao menos aparentemente, um significado tão especial ou místico, mas ornamental, assim como muitas Estrelas de Davi foram achadas ao lado de “Escudos de Salomão” (estrelas de cinco pontas ou pentagramas) e, curiosamente, ao lado de
suásticas. Um exemplo é o friso da sinagoga de Cafarnaum (século II ou III da era cristã) e uma lápide (ano 300 da era cristã), encontrada no sul da Itália. Apesar disso, a Estrela de Davi não aparece entre os símbolos judaicos mais importantes do período helenístico.
O testemunho mais antigo deste emblema na literatura judaica é mostrado no livro do sábio
caraíta Yehudah ben Eliahu Hadasi, que viveu no século XII, em seu livro “
Eshkol Hakofer”. No capítulo 242, ele expõe costumes de pessoas do povo que aos poucos foram mudando o símbolo do Escudo de Davi de um simples selo para um tipo de signo místico ou amuleto: “e os sete anjos na
Mezuzá foram escritos - Miguel e Gabriel [...] o Eterno irá guardar-te e este símbolo chamado Escudo de Davi é escrito em todos os anjos e no final da
Mezuzá...”. Assim sendo, já naquela época, este símbolo tinha um caráter místico, sendo freqüentemente gravado como uma forma de amuleto, protetor.
A identificação efetiva da Estrela de Davi com o
Judaísmo começou na
Idade Média. Em
1354, o rei
Carlos IV (Karel IV) concedeu o privilégio à comunidade judaica de Praga de ter sua própria bandeira. Os judeus confeccionaram, num fundo vermelho, um hexagrama, a Estrela de Davi, em ouro. Documentos referem-se a este símbolo como sendo a “bandeira do rei Davi“. Em Praga, a estrela de seis pontas – sempre chamada de “Maguen David” – passou a ser usada tanto em sinagogas, como no selo oficial da comunidade e em livros impressos. No
século XIX, difundiu-se o símbolo da Estrela de Davi também nos carimbos de judeus e sobre cortinas das
Arcas Santas das sinagogas.
Junto com parte dos judeus devotos, expandiu-se a alegação de que a origem do símbolo da Estrela de Davi estava diretamente ligada às flores que adornavam a
Menorá - candelabro de sete braços que fazia parte dos objetos do
Templo em
Jerusalém – feitas numa forma de relevo de lírios de seis pétalas, que faziam uma silhueta parecida com a forma da Estrela de Davi. Entre os que crêem nesta suposta origem do famoso símbolo, há uma interpretação que a Estrela de Davi foi feita diretamente pelas mãos do próprio
Deus de
Israel.
As diferentes influências no símbolo
Existem intérpretes que argumentam que o lírio branco é composto por seis pétalas num estilo parecido com a Estrela de Davi. De fato, esta é a flor que é identificada com o povo de
Israel no livro bíblico de
Cântico dos Cânticos.
Há pensadores que viram no conceito de “Estrela de Davi” e nos dois triângulos que a compõem uma ligação ou conexão com o elemento macho (o triângulo com a ponta voltada para cima, constituindo o símbolo masculino) e com o elemento fêmea (o triângulo voltado para baixo, constituindo a forma de um receptáculo). Há os que viram neste símbolo a relação entre o elemento celestial que aspira para a terra seu poder (o triângulo com a ponta para baixo), contra o elemento terrestre que aspira para o céu sua influência (o triângulo que aponta para cima). Outros pensadores argumentaram que a Estrela de Davi constituída por seis pontas representaria o domínio celestial sobre os quatro ventos, sobre o que está em cima e sobre o que está embaixo na terra.
De acordo com a
Cabala (mística judaica), a Estrela de Davi insinua a representação das sete
emanações divinas (sefirot) inferiores. Cada triângulo dos seis triângulos que formam os lados da estrela representariam uma emanação e o centro dos triângulos maiores sobrepostos da Estrela de Davi representariam a
emanação denominada
Malchut. O filósofo Franz Rosenzweig deu uma outra interpretação muito peculiar à Estrela de Davi, quando afirmou que um dos triângulos constituintes do símbolo seria a representação da base de focos que caracterizam o pensamento do mundo – Deus, o homem e o mundo. Obviamente, havia filósofos que não criam na existência de Deus, de um mundo metafísico ou de uma humanidade separada do mundo real, mas ainda estes focos constituíam, na sua opinião, a base da
filosofia de sua geração. O outro triângulo representaria, na sua cogitação, a posição do
Judaísmo nestes assuntos. Num nível bem básico, o Judaísmo se ocuparia na reflexão sobre as relações que existem entre estes fatores, no tocante aos três fundamentos principais do
Judaísmo, na opinião de Rosenzweig: a
Criação (a relação entre Deus e o mundo), a
revelação (a relação entre Deus e o homem) e a
redenção (a relação entre o homem e o mundo).